INIBIÇÃO DO DESEJO SEXUAL
A criação baseada na repressão e influências negativas em relação à sexualidade trouxe intenso efeito na vida sexual feminina. Assim, muitas continuam oprimindo seus desejos e vivenciando condições fortemente conflitivas, com grande resultado emocional.
Na nossa sociedade vigorou a idéia de que a mulher honesta não sentia desejo sexual, sexo era destinado aos homens ou às mulheres que não fossem sérias. Dessa forma, a educação era para que a sexualidade não viesse à tona baseando-se em noções de pecado e culpa – idéia que ainda contamina a atualidade. A revolução sexual da década de 60 trouxe uma forma de alterar tais valores percebendo-se hoje uma busca pela satisfação e equilíbrio sexual.
Em algumas culturas o sexo ainda é um tabu e encarado como pecaminoso. No Brasil as mulheres ainda são influenciadas a reprimirem seus desejos, por outro lado, percebe-se também uma sexualidade estereotipada, ditada pelas revistas da moda, convocando a vivencia sexual livre. Acontece que se a mulher não se encaixa em tal script, logo pensa que está sofrendo com falta de desejo.
Outra questão a ser apontada é a confusão entre a figura da mulher maternal e sexual, como essas fossem atuações incompatíveis. Ainda é sustentado um estereótipo em relação à figura da mãe: nega-se o lado sexual e feminino em nome da maternidade.
Conceito
O ciclo da resposta sexual humana é composto por desejo, excitação e orgasmo. Não existe uma obrigatoriedade de desfrutar todas essas fases, porém, a ausência constante de alguma, indica que algo não vai bem.
A primeira fase, o desejo, é o desencadear de toda a relação, ou seja, onde tudo começa: a pretensão, a vontade de se aproximar do outro e mostrar-se receptiva. Estão envolvidos hormônios e neurotransmissores especializados que induz sensações especificas, incitando a busca pela experiência sexual. Porém, o desejo sexual humano não pode ser comparado à simples pulsões fisiológicas, como a sede ou a fome. Este é um fenômeno subjetivo experimentado pelo corpo, e, muitas vezes, diz respeito a estímulos externos, sendo bem mais complexo. Colaboram para a sua formação as fantasias sexuais, a receptividade do companheiro (a), o início do comportamento sexual, as sensações genitais, as respostas aos sinais eróticos do meio ambiente, a iniciação da masturbação, entre outros.
Outra questão envolvida na motivação sexual é a avaliação que é feita do parceiro (a). Quando ela é positiva, a pessoa tem vontade de se relacionar sexualmente. Qualquer estímulo pode ser reforçador, como o (a) parceiro (a) ser um bom pai (mãe) ou ser admirado (a) profissionalmente. Quando ela é negativa, tal vontade se perde. Sentimentos de mágoas e decepção minam o desejo pelo (a) parceiro (a), pelo investimento na relação.
O desejo sexual hipoativo é caracterizado por uma diminuição ou ausência completa de fantasias eróticas, além da falta de iniciativa para o ato sexual e fuga do relacionamento sexual. Ou seja, a baixa freqüência coital revela uma ausência de desejo sexual espontâneo, porém deve-se levar em consideração a idade e o contexto de vida.
É como se a importância dada ao sexo tivesse adormecida. Dessa forma, as questões relacionadas ao desejo costumam gerar uma grande aflição por serem bastante desgastantes ao influenciar toda a motivação do casal já que há um impedimento no envolvimento com o (a) parceiro (a), que se queixa de falta de intimidade ou reciprocidade. Assim, tal distúrbio, que pode afetar tanto homens como mulheres, é uma situação capaz de motivar sérias complicações emocionais e problemas de relacionamento íntimo.
Percebe-se nas mulheres, na maioria das vezes, um comportamento de ‘luta ou fuga’. Ela pode insistir na relação, fingindo satisfação, o que deixa o parceiro fora da realidade e da possibilidade de apoiá-la, ou pode fugir da intimidade sexual alegando dores de cabeça, cansaço e, novamente, evitando o apoio do parceiro, além de possibilitar que ele se sinta rejeitado sem poder entender de fato o que está acontecendo.Vale lembrar que, às vezes, a queixa de um parceiro sobre seu baixo desejo diz respeito as necessidade excessivas dele, já que a força do desejo e a freqüência dele variam de cada pessoa e dizem respeito ao contexto familiar, social e a idade.
Além disso, a falta de desejo sexual não está relacionada com falta de amor: sexo não pode ser confundido com amor. Outras vezes tal problema pode ser transferido para o parceiro que passa a ser visto como um constante inimigo e responsabilizado pela perda do desejo. A depressão é uma conseqüência esperada assim como o desajuste conjugal. Vale ressaltar que para esse quadro ser classificado, ele deve causar acentuado sofrimento ou algum tipo de dificuldade interpessoal e não ser reflexo de alguma condição médica geral.
Um estágio avançado do Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo é o Transtorno de Aversão Sexual cuja característica fundamental é a aversão e esquiva do contato sexual genital, onde se relata ansiedade, medo ou recusa ao se encontrar diante de uma oportunidade sexual.
Etiologia
O desejo sexual é entendido como um complexo vivencial criado por três componentes fundamentais: a biologia, a socialização e a psicologia. Comumente tais fatores atuam simultaneamente e reforçam-se mutuamente.
A disfunção de tal ordem é freqüentemente ocasionada por fatores psicossociais, mas o lado orgânico também pode compor esse quadro, embora de forma mais rara que o outro.
Fatores orgânicos: desequilíbrios hormonais provocados por parto, amamentação, menopausa e anticoncepcionais, alterações de neurotransmissores, anemia, aumento da prolactina, deficiência cardíaca congestiva ou hipotiroidismo, diminuição de testosterona ou estrogênio, nódulos vaginais ou infecções, depressão, anedonia, medicamentos e drogas (álcool, tranqüilizantes, anti-hipertensivos, maconha, anfetaminas, cocaína e craque), dispareunia e algumas debilidades físicas, entre outros.
Fatores psicossociais: forma de criação, repressão e influências culturais negativas, dificuldade de concentração nas sensações eróticas fazendo com que a atividade sexual pareça sem graça e desagradável, bloqueios emocionais, falta de investimento na relação, imaturidade emocional e sexual, dificuldades no relacionamento com o (a) parceiro (a), raivas entre o casal, ressentimentos e mágoas, sentimentos de não realização pessoal, presença de disfunção sexual no parceiro, frustrações profissionais, dificuldade em conciliar a maternidade com os outros papéis, situações traumáticas de abuso sexual ou estupro, tabu sobre sexualidade, falta de intimidade com o corpo e com o parceiro, traumas, medos e culpas, mensagens anti-sexuais durante a infância, baixa de auto-estima, avaliação negativa do parceiro, decepção e incompreensão, religião, valorização dos aspectos negativos da sexualidade, estresse, depressão e ansiedade, temor de alguma represália pelo ato sexual, da intimidade, de obter um prazer “proibido e pecaminoso”, do compromisso ou gravidez, parceiro ou atividade sexual insatisfatórios, rotina sexual, valores negativos relacionados a sexualidade, excesso de preocupações com a vida em geral e em proporcionar prazer a(o) companheira(a), vergonha, constrangimento e frustração, práticas sexuais pouco ou nada gratificantes, cansaço físico e/ou mental, falta de diálogo entre o casal, dificuldades com o cotidiano, entre outros.
Tratamento
É crescente o número que procura ajuda por sentirem desmotivação sexual. Procuram por terapeutas sexuais, ginecologistas e até mesmo por amigas, mas raramente falam sobre tal assunto com o parceiro por se sentirem insegurança na estabilidade de seus relacionamentos.
Essa é uma das disfunções mais difíceis de se tratar, já que em regra a disfunção já acompanha o indivíduo por anos. Talvez por preconceito ou mesmo vergonha, quando procuraram por ajuda geralmente já encontram-se bem abaladas, com um relacionamento desgastado pelas brigas e desconfianças (é bem comum o parceiro acreditar que está sendo traído) e desentendimentos.
No tratamento, o enfoque principal é a disfunção, devendo-se fazer uma leitura do conflito, a fim de saber se existe alguma dificuldade emocional ou psicológica, ou se o problema é físico. Porém, o trabalho além do desaparecimento do sintoma, tende favorecer condições para a reestruturação nas múltiplas facetas da vida: envolve o tratamento de doenças envolvidas, a substituição de medicações que possam estar interferindo na resposta sexual e algumas vezes, a correção das alterações hormonais.
O objetivo é deparar com as causas contribuintes de tal queixa e para tanto existem três caminhos a serem traçados: atender individualmente a mulher que apresenta tais questões ou fazer uma terapia de casal, ou, ainda, o conjunto dos dois processos.
O atendimento individual objetiva criar condições para ampliar o autoconhecimento buscando identificar como a mulher está construindo tal quadro, o que tem aprendido com ele, o que ele tem a contar sobre ela mesma e sobre a sua forma de funcionar na relação e com o meio. É na terapia, portanto, que se revêem falsos conceitos e se fornece orientação, possibilitando novas perspectivas. A mulher provavelmente poderá entender melhor as suas limitações, conhecendo uma nova expectativa ao aprender a se relacionar no meio em que vive de um modo mais satisfatório e ajustado.
A terapia de casal, objetiva facilitar a comunicação do mesmo e busca-se aprender sobre o funcionamento da relação. Como esse casal está se distanciando e para que. Em muitos casos, a relação está tão pobre, que a relação sexual passa a ser uma obrigação e dessa forma ela não vai ser capaz de gerar prazer.
A sexualidade e a forma que a mulher se relaciona com ela é produto de eventos que, aparentemente, nada têm a ver com sexo. A sexualidade humana vai além do ato sexual. Ela engloba outras atividades como fantasias, masturbação e pensamentos eróticos. Assim, a superação de um quadro como esse leva ao aprendizado e ao autoconhecimento, provocando transformações além da sexualidade.
O tratamento de qualquer disfunção sexual deve ser acompanhado por um profissional que possua conhecimentos dos mecanismos da resposta sexual, assim como os seus estágios.