Gestação Após os 35 Anos

GESTAÇÃO APÓS OS 35 ANOS

Atualmente, grande parte dos casais optam por ter filhos após os 35 anos. Este período
coincide com o declínio da fertilidade na mulher. A diminuição do potencial reprodutivo,
reserva ovariana, é a conseqüência do envelhecimento natural dos ovários.
O potencial reprodutivo da mulher diminui na 3ª década, tornando-se muito baixo na 4ª,
mesmo que a função ovariana de produção hormonal, permaneça até a menopausa, ao redor
dos 50 anos.

O declínio da fertilidade relacionado à idade da mulher é muito bem demonstrada pelo
estudo da população rural do Senegal, cujas mulheres têm em média 7,9 filhos: em torno dos
25 anos a fertilidade é máxima, diminuindo, significativamente, após os 35 anos.
Taxas de gestação menores, maior incidência de abortamento e de malformações
congênitas refletem no envelhecimento e diminuição da qualidade do óvulo, ocorrendo gradual
e naturalmente com a idade. Além disso, a possibilidade do aparecimento de doenças
ginecológicas que diminuem a fertilidade, como infecções pélvicas e endometriose, aumenta
com a idade, tornando a gestação uma tarefa mais difícil.


Tabela: Risco de abortamento espontâneo, conforme a idade materna (modificado de Gindolf PR, 1986).


Tabela: Risco de anormalidade cromossômica em recém-nascidos, conforme a idade materna (modificado de Hook
EB, 1981).

Reserva Ovariana

O potencial reprodutivo da mulher é chamado reserva ovariana. Está relacionado ao
número de folículos primordiais presentes no ovário, que diminuem com a idade. Sendo
limitado o valor preditivo da idade da mulher, isoladamente, para estimar as chances de
gestação e de resposta aos tratamentos que envolvam indução da ovulação, pesquisa-se
outros parâmetros que avaliem o potencial reprodutivo: são os testes de reserva ovariana.
Dosagem de FSH Basal: Scott et al. em 1989 correlacionaram níveis de FSH aumentados
no 3º dia do ciclo com chances significativamente menores de gestação.


Tabela: Risco de anormalidade cromossômica em recém-nascidos, conforme a idade materna
(modificado de Scott e cols 1989).

Em 1990, o mesmo grupo, demonstrou entre pacientes de mesma idade, pior performance
reprodutiva quando o FSH basal é mais elevado e quando há grande variação na dosagem de
FSH basal entre os ciclos .

Teste do clomifeno:

Foi descrito por Navot e cols., em 1987, como “teste prognóstico de
fecundidade feminina”. É o mais empregado para avaliação da reserva ovariana em mulheres
acima de 35 anos.
O teste consiste na dosagem de FSH no 3º dia do ciclo, administração de citrato de
clomifeno do 5º ao 9º dia do ciclo e dosagem de FSH no 10º dia. Se o FSH no 10º dia for maior
que 15mUI/ml, a chance de gestação é muito baixa.

As pacientes que se beneficiam dos testes de reserva ovariana são aquelas com
dificuldade de concepção aos 35 anos ou mais, com infertilidade sem causa aparente, com
história familiar de falência ovariana precoce e aquelas que realizaram quimioterapia ou
radioterapia pélvica.

A despeito da validade da avaliação da reserva ovariana, as pacientes com testes
alterados têm significativamente menores taxas de gestação do que pacientes com testes
normais. Esta informação é importante para o clínico orientar futuros tratamentos, bem como
para o casal avaliar se deve ou não investir em tratamentos, adotar uma criança ou optar por
uma vida sem filhos.

Alternativas reprodutivas no climatério

Sendo a qualidade do ovócito de mulheres climatéricas o principal fator relacionado a
pobre performance reprodutiva, melhorar a qualidade do ovócito é o que tem sido
proposto.

Ovodoação:

É uma técnica na qual os gametas femininos (óvulos) de uma doadora
jovem são doados a uma mulher infértil (receptora), para que sejam fertilizados pelos
espermatozóides do marido da receptora. A fertilização é realizada in vitro, e os embriões são
transferidos para o útero da receptora (que tem o endométrio preparado para a implantação).


Fig. 15: Figura: Esquema do procedimento doação de óvulos. Os óvulos são
retirados da doadora e inseminados com os espermatozóides do marido da receptora. O
embrião é transferido para o útero da receptora
Os resultados de gestação publicados pela Red Latinoamericana de Reprodução Assistida, em
2003, referente a ciclos com ovócitos doados em pacientes com mais de 38 anos, mostram
taxas de gestação similares àquelas de pacientes jovens, em torno de 36%. A utilização de
óvulos doados é, atualmente, a melhor opção para pacientes com reserva ovariana diminuída,
climatéricas e, também, para mulheres que já realizaram vários ciclos de fertilização in vitro e
sem sucesso. Este procedimento, entretanto, deve ser muito bem esclarecido e entendido, pois
envolve carga genética de outra mulher.

Criopreservação de ovócitos e tecido ovariano:

A criopreservação de tecido ovariano é uma técnica desenvolvida para manter a função
reprodutiva de mulheres que necessitam fazer quimioterapia, radioterapia, cirurgia pélvica
radical ou, simplesmente, desejam preservar a fecundidade. O princípio é simples, fragmentos
de ovário são retirados dias antes da realização de procedimentos esterilizantes, sendo
congelados em nitrogênio líquido e meios de cultura protetores. Após a cura da doença básica
ou quando a mulher desejar engravidar, os gametas criopreservados podem ser utilizados. O
autotransplante (retorno de fragmentos ovarianos à própria paciente) já foi descrito com
sucesso e parece promissor. A maturação folicular em outro animal, e subseqüente fertilização
in vitro, também já foi demonstrada. Outro avanço, ainda incipiente, é o desenvolvimento de
sistemas in vitro para desenvolvimento e maturação de folículos primordiais.

Todas as opções e as dificuldades reprodutivas devem ser consideradas no
aconselhamento, planejamento e acompanhamento das pacientes que desejam gestar em
idades mais avançadas. Os avanços reprodutivos aumentaram as chances de gestação no
climatério, e ampliaram o conhecimento dos riscos associados, tornando as gestações mais
conscientes.